Que cena deprimente. Comumente encontramos proprietários que num momento (e geralmente por motivo banal, seja qual for) qualquer, agride seu cão, batendo com tapas na cara do animal, pancadas com objetos ou ainda com chutes e arremessos de paus e pedras, alegando ensinamento e educação canina, numa frustrada tentativa de esconder a deficiente atenção que foi dispensada a aquele exemplar quando na idade de aprendizado eficaz.
Vejamos, se for seguir a linha de raciocínio de Charles Darwin em sua obra sobre a evolução das espécies, rapidamente poderei concluir que meu estágio de evolução se encontra um pouco acima do meu cão, então, se for empregar a “lei do mais forte” estaria (vejamos bem a conjugação do verbo!) Eu realmente seguindo a ordem natural da evolução ou estaria regredindo? E se minha crença me dirige ao criacionismo, estaria eu enquanto obra das mãos do altíssimo pai transportando e externando neste momento toda a dedicação emanada através de seu sopro de vida? Seja qual for a razão de minha existência, mesmo a materialista, tenho que lembrar que meu mascote é um ser vivo, alguém que incondicionalmente me traz afeto e afago, e como retribuir? É tão simples como as melhores ideias.
Se sempre transmito carinho ao meu cão, mas isto não quer dizer que não imponha minha autoridade (pois eu sou o líder da matilha, eu sou o ser pensante, eu é que o levo pra passear), e num momento o meu cão apresenta um comportamento indesejável aos meus moldes, o simples fato de não fazer nada, ou seja, ele sempre recebe carinho por tudo, e naquele instante, exatamente naquele instante (e ainda, naquela situação), não recebe nada e, por receber nada, ficará na ansiedade pelo que haveria motivado a ausência de carinho, é o que chamamos de estímulo neutro, escrito parece complexo, mas na prática é bem simples. Por incrível que pareça, é muito mais simples enquadrar o cão nesta rotina do que seu dono. Lembremos, como desenvolvemos o intelecto, deixamos nossos instintos de lado, no fundo do baú. Meu não desenvolveu tanto assim, sobrevive de instintos e impulsos (por isso a busca de uma herança genética é algo a ser considerado), esses instintos e impulsos são trabalhados mediante estímulos e recompensas, daí advém o adestramento que nada mais é do que o condicionamento resultante da repetição, é a experiência adquirida e que, certamente o cão apresentará na idade adulta tudo aquilo que aprendeu na sua infância e adolescência, sejam coisas boas ou ruins. Um determinado senhor buscava um bom adestrador para treinar seu cão para guarda, e o encontrou.
Tinha também um bom filhote, de ótima linhagem, muito boa estrutura, exibia ótima tolerância a ruídos estranhos e estampidos, só tinha uma coisa, tinha verdadeiro pavor de movimentos ríspidos com os braços (se alguém apanhasse algo no chão... Encostasse numa vassoura... Manuseasse uma mangueira de jardim...), com isso poderia devagar horas sem fim, buscando respostas e desculpas (algumas absurdas) que justificassem o comportamento daquele filhotão, mas os cães não mentem, se ele tem medo de algo, com certeza tem um motivo, já teve uma experiência que o marcou.
Vejamos três casos muito comuns:
1.Tem cão que não sabe quem é o dono, daí seu feliz proprietário de direito aparece do nada e quer botar a mão no bicho... Problemas.
2.Tem o proprietário que vê a cara do cão todo dia, mas nunca higienizou seu box,
deu-lhe de comer ou rasqueou-lhe o pelo, e do nada quer compartilhar de algo que o cão não está acostumado... Problemas.
3. Tem casos em que o dono do cão sai à noite no pátio, com o vento a favor de si,
no escuro, apresentando comportamento de presa (vasculhando com a visão os limites da propriedade mergulhada na escuridão, caminhando e exibindo um ar de desconfiança), sem emitir qualquer fonema... Como é que o cão vai adivinhar de quem se trata, uma vez que não sentiu o cheiro, pela sua visão deficiente não conseguiu identificar a silhueta e a expressão corporal não ajudou muito, e acima de tudo, não ouviu a voz do seu dono... Problemas. A culpa é do cão? QUEM NÃO TEM TÉCNICA USA FORÇA...
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